domingo, 29 de dezembro de 2013

Lenda Urbana

João da Silva acordou já cansado, como todo mundo. Sorte que lhe sobravam 10 minutos para um café. Tomou e se alegrou. 
Beijo na esposa, beijo na filha, afago no cachorro.
Tinha presa, se atrasava, mas contente porque iria ver o sol nascer.
Saiu pulando por uma rua de terra clara pois chovera aquela noite, resmungava ao pisar na poça suja pelo boeiro entupido, mas contente porque a enchente esse ano a sua casa não alcançou.
Chega tarde na luta contra outros da mesma espécie, e numa batalha selvagem e mortal prevalece sua experiência. Ganha, com isso, o privilégio de pagar para entrar em uma lata de sardinhas. 
"Já não sinto mais meu braço"- pensava João enquanto suava no calor de Fevereiro. No fundo, contente pois naquele dia o ônibus não atrasara.
Corre-corre, adrenalina, a jornada não acabou.
Passadas largas resolvem seu problema. Faltando pouco pra chegar esbarra em um sujeito que foge apressado. Com sua carteira. João respira, pensa em todo o prejuízo, já contente pois ao menos hoje foi rápido e indolor.
Chega, finalmente,  no covil das sanguessugas. Tal empresa criava e vendia formas mais eficientes de humilhação, mercado que possui uma demanda enorme nos dias de hoje. Andando em sua direção o verme mórbido e desprezível a quem não se podia questionar.
-"Baixe a cabeça e resolva meus problemas! Não reclame pois há muitos lá fora querendo seu lugar. Seja um bom menino, trabalhe até o osso e, quem sabe, no fim do dia devolveremos o seu rim". 

"Ao menos tenho onde trabalhar"- contente, pensou João da Silva. (...)


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